Gostaria de compartilhar um pouco dessa ebulição que sinto a me corroer por dentro, como se a cabeça fosse explodir a qualquer instante e o coração não batesse mais por nada nessa vida. Dizem que restam por aí alguns poucos intelectuais, desses que são pensadores e críticos da sociedade e da condição humana atuais. Fico pensando que os que ainda não se venderam ou se renderam ao capitalismo talvez estejam calados, ou ainda que pensem, falem e escrevam, sintam-se silenciados por uma sociedade que prefere vitrines e televisão a uma boa reflexão. (Reparem que não cheguei ao extremo da ação, limito-me apenas a uma pequena dose de reflexão.)
Na minha humilde categoria de universitária, gostaria realmente de poder compartilhar uma incerteza sobre o que será de nós daqui a alguns anos. Não tenho vocação para vidente, mas dos poucos intelectuais que restam, e na relação muito próxima e cotidiana com outros universitários, acredito que para muitos, a violência a qual estamos sendo submetidos passa despercebida.
Digamos que há alguns anos, principalmente no Brasil, uma das formas de violência mais evidentes era a explícita, sob forma de repressão e agressão física. Isso causou indignação nas pessoas. Isso ainda causa indignação nas pessoas. E outras formas de violência, mais sutis, passam despercebidas.
Digamos que há alguns anos, principalmente no Brasil, uma das formas de violência mais evidentes era a explícita, sob forma de repressão e agressão física. Isso causou indignação nas pessoas. Isso ainda causa indignação nas pessoas. E outras formas de violência, mais sutis, passam despercebidas.
Temos aí o tal neoliberalismo, além de uma figura muito importante, em nível mundial, o famoso mercado. As leis do mercado, o capital, regem a orquestra mundial. São expressões que estão na boca de qualquer um, é algo natural, já dado, inquestionável. Aos poucos, e cada vez mais, estamos sendo vendidos. E isso é natural. Estão nos violentando, estão violentando o que algum dia chamamos cidadania. Não deu tempo da sociedade saber o que é cidadania, antes que isso ocorresse, ela foi comprada. Isso não é uma violência? Cada vez mais me sinto violentada e isso significa dizer enfraquecida. As pessoas não acreditam mais na solidariedade, na coletividade, na capacidade de serem agentes transformadores de sua história. As pessoas acreditam no capital, na produção, nas leis de mercado.
E o que os intelectuais têm a ver com isso? É o que me pergunto. Porque uma revolução se faz a partir das bases, assim penso. Dizem que no Brasil, quem conseguiu chegar ao nível superior, sobretudo o público, é um privilegiado, devido a todas as contradições sociais que vivemos. Daí a pensar que, no mínimo, essa pequena parcela seja um pouco da esperança para o amanhã, os futuros intelectuais. Essa é a grande decepção. Não quero desmerecer a luta do movimento estudantil, pois sei que há muitos militantes por aí, num coletivo ampliado. Mas há um movimento maior ainda entre os tais “privilegiados” que é o da alienação política. Teoricamente, espera-se que esses sejam “inteligentes” e “capazes”, mas não é muito claro o para quê. São inteligentes e capazes para servir ao mercado . Não entendem o que quer dizer a expressão “Educação é um direito e não uma mercadoria”.
Injustiça a minha! Alguns até entendem, mas apenas na teoria. Porque não percebem o que significa cidadania, o que significa coletivo. Não percebem que temos que manter a teoria de que “Educação é um direito” e concretizá-la na prática. Não percebem que isso se faz através de um coletivo forte, tendo eles como atores. Já se venderam e não sabem disso. Já se conformaram e se acostumaram com a violência a que estão submetidos. Serão esses os intelectuais de amanhã? Não. Serão esses a mão-de-obra de amanhã. E não percebem nada disso. Sonham com uma carreira brilhante, de sucesso, alguns inclusive com a carreira acadêmica. Serão profissionais meramente tecnicistas. É certo que já há muitos profissionais atualmente com esse perfil, desarticulados com um compromisso social, não o de trabalho voluntário, a máscara que desobriga o Estado a cumprir com o seu papel, mas o de pensar e agir no social, na estrutura, enfim, de contribuir para mudar as regras do jogo.
Para que, se as regras os favorecem? Afinal, não estamos falando de universidades públicas que são elitistas? Sim, estamos. Universidades públicas que também estão sendo vendidas.
Sabe qual a violência maior? É saber que não estamos sendo fortes o suficiente para resistir a isso. É saber que muitos “privilegiados”, essas pessoas inteligentes e capazes, ainda que bem informadas, não conseguem se indignar. O cabresto imposto pelo capital e pela mídia é tão grande, que trocou a condição de cidadãos pela de marionetes. Ainda acho que uma revolução se faz a partir das bases da estrutura social. Nas universidades, acredito que a base somos nós, estudantes, os tais privilegiados, intelectuais e capazes. Mas a base é tão elitista que não se indigna. Era só isso que eu gostaria de compartilhar. Peço ajuda para entender como conseguiremos vencer se no nosso elenco a maioria é marionete. Como ajudá-los a recuperar a noção de cidadania? É apenas isso. A ebulição que me corrói por dentro, como se a cabeça fosse explodir e o coração parar de bater... Será a luta para não vir a ser também uma marionete?
É como disse Che: “A culpa de muitos dos nossos intelectuais e artistas reside em seu pecado original; não são autenticamente revolucionários.”, e mais, hoje em dia se criou um ser, chamado Mercado, que ninguém pode contraria-lo, pois ele é mimado e se zango, chora , sente até dor. e em nome de manter o Mercado paparicado e quieto, quem sente fome, dor, desnutrição, quem morre de vermes, quem fica na miséria são dois terços (2/3), 67% da população mundial, 67% de pessoas, seres humanos, pra não falar da destruição da natureza, da fauna e da flora, florestas, mares e rios.
A universidade (elitizada) nos forma técnicos, mas citando Florestan Fernandes: "Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso,serão aliados daqueles que exploram o povo".
Che também nos fala: "Mas vocês, estudantes de todo o mundo, jamais se esqueçam de que por trás de cada técnica há alguém que a empunha e que esse alguém é uma sociedade e que se está a favor ou contra essa sociedade. Que no mundo há os que pensam que a exploração é boa e os que pensam que a exploração é ruim e que é preciso acabar com ela. E que mesmo quando não se fala de política em nenhum lugar, o homem político não pode renunciar a essa situação imanente à sua condição de ser humano. E que a técnica é uma arma e que quem sinta que o mundo não é tão perfeito quanto deveria ser deve lutar para que a arma da técnica seja posta a serviço da sociedade, e antes, por isso, resgatar a sociedade, para que toda técnica sirva à maior quantidade possível de seres humanos, e para que possamos construir a sociedade do futuro - qualquer que seja seu nome, essa sociedade com a qual sonhamos e a que chamamos, como lhe chamou o fundador do socialismo científico, 'o comunismo'. "
Eu vou continuar lutando por um mundo mais justo, custe o que custar.
Saudações revolucionárias,
Eu vou continuar lutando por um mundo mais justo, custe o que custar.
Saudações revolucionárias,
Há braços coletivos!
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